terça-feira, 5 de julho de 2011

Entrevista ao Padre Arlindo Ferreira Pinto

Pe. Arlindo Ferreira Pinto, em Roma
Cidadão do mundo mas com coração freamundense
Arlindo Ferreira Pinto, 54 anos de idade. Nos livros oficiais de Freamunde, o seu nome consta no registo de Baptismos, na Escola Primária, na Telescola e no Sport Clube de Freamunde.
            Foi guarda-redes por pouco tempo, pois o chamamento vocacional cedo o vinculou aos Missionários Combonianos. Fez os estudos de Filosofia em Coimbra e formou-se em Teologia Moral na Universidade de Innsbruck (Áustria) e em Jornalismo, em Roma (Itália). Foi ordenado sacerdote em Nampula (Moçambique), em Dezembro de 1986. Em Lisboa, foi director das revistas missionárias combonianas “Além-Mar” e “Audácia” durante quase sete anos. Soma 18 anos de vida missionária em Moçambique, cinco dos quais em plena guerra civil.
            Nos últimos 13 anos foi capelão e docente na Universidade Católica de Moçambique (UCM) e coordenador do Departamento de Comunicação da Faculdade de Educação e Comunicação, em Nampula. Desde Janeiro deste ano, está a trabalhar na Direcção Geral dos Missionários Combonianos, em Roma. Andanças que, apesar de tudo, não demovem o Padre Arlindo de ser um grande Freamundense.
            Foi a esta figura a quem pedimos para falar de Freamunde e do espírito que preside à realização das Sebastianas, agora que as festas estão à porta.
           
Entrevista (via correio electrónico)
Que memória guarda das Festas Sebastianas? De que ano são, na sua memória, as Sebastianas mais antigas?
Pe. Arlindo (PA): Anos 70. Foi há 41 anos que iniciei o êxodo que me foi afastando da terra das gentes com boca (Munde) de paz (Frieden): Freamunde. Primeiro para perto, Famalicão e Maia, e depois sempre para mais longe: Coimbra, Santarém, Lisboa, Innsbruck, Nampula, Roma, Cidade do México... mas sempre com o cordão umbilical dos sentimentos ligado às tradições e aos acontecimentos da terra “mátria” que me viu nascer e crescer.
À resposta “Sou de Freamunde”, corresponde sempre uma réplica automática: “Ah, terra da Música, do futebol, dos capões, das vacas do fogo...” É o que os portugueses guardam da nossa terra na sua memória.
O que sempre mais me atraiu a Freamunde foram as Sebastianas. Sempre que pude, as minhas férias tinham de coincidir com a segunda semana de Julho. Adoro encontrar a família e os amigos neste clima ímpar de euforia. E como eu, acho, a maioria dos freamundenses da diáspora. Nestes dias de festa, encontramos facilmente os amigos e aproveitamos para colocar a escrita em dia.
Tenho a memória viva dos concertos e do caldo verde na antiga Praça, toda vedada a serapilheira. Recordo a Banda de Freamunde a fazer vibrar os corações da assistência, sobretudo quando, a horas tantas e entre o ruído dos carrosséis, dos aviões e dos “carrinhos-de-choque”, entoava “Oh Freamunde, oh festas Sebastianas...” ou ainda “Quem nasceu na Gandarela...”. Aquele delírio colectivo que só faz bem! Lembro a majestosa procissão de domingo à tarde e as multidões curiosas deliciando-se a ver passar a “Marcha”, na segunda-feira à noite. E tantas outras memórias do nosso folclore!

Alguma vez participou na organização, de forma directa ou mesmo indirecta?
(PA): Na organização propriamente dita não. Mas como padre colaborei na Missa de Festa. Fiz mais do que uma vez a homilia da missa de festa – “o sermão” da festa, como se costumava dizer noutros tempos. Participei também na procissão, caminhando debaixo do pálio, levando o ostensório por debaixo de uma capa de asperges (pluvial) de cujo peso nem vos quero falar. E aqui, não posso deixar de mencionar aquele momento emocionante ao passar na Gandarela e escutar aquele fogo-de-artifício a querer demonstrar a força da devoção ao Mártir que pisa o seu território e ao mesmo tempo a afirmação do orgulho e do bairrismo da parcela de um povo que sempre se distinguiu entre a população de Freamunde.
Sendo um Homem da Comunicação (foi director das revistas "Além Mar” e “Audácia") como define este espírito Freamundense que preside a esta organização?
(PA): Os cidadãos só adquirem sentido de pertença a um território e a uma comunidade quando são capazes de conviver e partilhar entre si os mesmos sentimentos sem olhar à origem social ou económica, à diferença de idades ou de políticas, ao género... em suma, o que as Sebastianas conseguem. Quantos momentos dos dias das festas fazem da pluralidade e diversidade dos Freamundenses um colectivo homogéneo: nos bombos, na sardinha assada e no caldo verde, na corrida das vacas. É este espírito de comunicação – saber estar em comum – que dá o fascínio e a mística às Sebastianas.
O que distingue, em sua opinião, as Sebastianas de outras festas desta natureza? Acha que São Sebastião poderá estar, de alguma forma, zangado porque nas Sebastianas o programa pagão tem mais peso e é esse lado que atrai milhares de pessoas a Freamunde?
(PA): As Sebastianas são uma festa de cultura, de arte, de ritmo, e de muita algazarra. Um acontecimento único nas redondezas. Quanto ao resto, conte só quanta gente vem ver a Procissão de domingo! Estou certo de que se não é o primeiro é o segundo momento mais alto das Sebastianas. Talvez só a Marcha alegórica congregue tanta gente! Depois, além da Missa de Festa, temos a novena, a homenagem aos falecidos, que são todas manifestações religiosas. E além disso, o próprio nome das festas mantém a marca religiosa: Sebastianas, em clara referência ao mártir S. Sebastião. Em poucas palavras, eu diria que os Freamundenses sabem cultivar em profundidade um diálogo magnífico entre o sagrado e o profano.
Há décadas que está ausente de Freamunde, chamado pela vocação Missionária e pela docência universitária. Continua a acompanhar o dia-a-dia da sua terra? De que forma? Como vê a sua evolução e progresso?
(PA): Cada vez que vou a Freamunde, numa média a cada dois anos, vejo sempre um enorme progresso. De todas as maneiras eu estive sempre muito ligado à minha terra, à família, aos amigos, ao futebol, à nossa maneira de ser. Eu acho que mentalmente sou um cidadão do mundo mas com um coração sedentário de aldeão, isto é, de freamundense. Às vezes penso até às lágrimas em tanta boa gente que conheci e foi muito minha amiga e, por isso, gosto de visitar o cemitério quando vou de férias.
Há vários anos que é muito fácil comunicar e ter notícias de Freamunde. Graças à Internet!
Quer deixar uma mensagem para a sua terra?
(PA): Caros amigos Freamundenses, vamos viver estas Sebastianas 2011 como se fossem as últimas. Ou então como se fossem as primeiras ou as únicas. Todos precisamos de festa, de folia, de divertimento. O lazer tem de fazer parte do nosso quotidiano. Não podemos passar o tempo a trabalhar e a pensar nas dificuldades da nossa vida e na vida dos outros. Se fosse assim eu já teria endoudecido! Vamos colaborar com os organizadores das Sebastianas. Vamos apoiá-los. Vamos à festa!

1 comentário:

Anónimo disse...

Grande entrevista de um grande HOMEM!